TECNOLOGIA NAS RELAÇÕES HUMANAS: ANÁLISE DE COMUNIDADE NO ORKUT
1. INTRODUÇÃO
Processos como coesão, cooperação, liderança, status e papel social, orientam o comportamento dentro dos grupos na maior parte do tempo. Cada grupo a que pertencemos tem seus próprios padrões. Os seres humanos parecem sentir-se pouco á vontade sem o estabelecimento de normas e, geralmente, acham um sacrifício adotar novas normas, especialmente se estas são radicalmente diferentes. Ao longo do trabalho veremos se a comunidade Transtorno/Síndrome do Pânico escolhida pela equipe segue os padrões de grupos citados acima. Porém primeiro veremos quais são os conceito de comunidade virtual como a do Orkut.
O termo comunidade aparece principalmente com duas asserções Segundo o dicionário Houaiss (2001):
1. “Agrupamento de seres que convivem em estado gregário e em colaboração mútua”. 2. “Conjunto de pessoas que vivem em certa faixa de tempo e de espaço, seguindo normas comuns, e que são unidas pelo sentimento de grupo; corpo social, coletividade”.
O impacto que a Internet e a tecnologia proporcionaram às relações humanas fez com que sociólogos e pesquisadores redefinissem estes temas e definissem uma nova existência de comunidades em um espaço virtual.
A Era da Informação, trouxe modificações, sobretudo na maneira como as pessoas se relacionam. Hoje, o contato entre pessoas ocorre numa linha tênue entre a realidade e o virtual. É o que se percebe nas redes sociais, onde as pessoas interagem das mais diversas formas, e que encontram muitas vezes o que procuram, amigos, relacionamentos, ajuda etc.
Souza (2003) afirma que os integrantes das comunidades virtuais do ciberespaço, continuam a ter um relacionamento e interação como se fosse presencial. As divisões de grupos por interesses e objetivos se mantêm independente de ser em um ambiente virtual. Os integrantes dessas comunidades quebram barreiras geográficas, culturais e linguísticas. Percebe-se a pluralidade de discursos de pessoas de vários lugares e de diferentes culturas e religiões.
SOUZA (2003) ainda define as comunidades virtuais a partir da seguinte perspectiva:
“Comunidades virtuais são agregações sociais que emergem da Rede quando um número suficiente de pessoas prossegue com discussões públicas por um período determinado, com sentimento suficiente para formar redes de relações pessoais no ciberespaço”.
Hoje, o Orkut e suas comunidades alcançaram uma representação muito mais ampla e fazem parte da construção da identidade virtual de grande parte dos internautas do país através das informações e feedbacks que modificam a todo o momento nossa subjetividade.
2. A COMUNIDADE
Escolhemos a comunidade Transtorno/Síndrome do Pânico, pelo seu conteúdo informativo e auxiliador.
A comunidade pode ser encontrada através do link:
Descrição da Comunidade:
“Comunidade destinada a portadores da Síndrome do pânico/transtorno do pânico. Nosso objetivo é reunir panikentos (pessoas que tem síndrome do pânico) para que possamos juntos nos ajudar! Aqui impera a democracia, mas aviso que se criarem tópicos de cunho preconceituoso será imediatamente deletado! Bem vindos ao clube do pan!”.
Idioma: Português (Brasil); Dono: Michelli Gavião; Moderadores: IVOR - Everton; Tipo: pública; Aberta para não membros; Criado em: 24 de outubro de 2004; Membros: 1.317.
Os membros interagem na comunidade á partir dos tópicos e das enquetes, é o meio de comunicação da comunidade. Onde poderão tirar suas dúvidas á respeito da síndrome do pânico, e dos sintomas da doença. Os integrantes da comunidade buscam também ajuda com relação aos problemas ocasionados pelo transtorno.
Essa comunidade é uma Gestalt (grupo): É como uma rede, como uma teia de aranha, cada um age maneira independente, mas psicodinamicamente interligado, agindo como um subsistema, onde cada um afeta o outro e é afetado pelo conjunto, criando uma matriz operacional.
3. CONCEITO DE GRUPO
Segundo o dicionário Aurélio Eletrônico (1999) O conceito de grupo é:
1. Conjunto de pessoas ou de objetos reunidos num mesmo lugar 2. Conjunto de pessoas que apresentam o mesmo comportamento e a mesma atitude, e com um objetivo comum que condiciona a coesão de seus membros: um grupo político; um grupo de trabalho; psicologia de grupo.
Os grupos sociais possuem um formato de organização, mesmo que individual. Uma das características é que estes grupos são superiores e exteriores ao indivíduo, assim, se uma pessoa sair de um grupo, possivelmente ele não irá acabar. Os integrantes de um grupo também possuem uma consciência grupal o pronome ‘’nós’’ ao invés do ‘’eu’’, certos valores, partindo de princípios e objetivos em comum.
O agrupamento existe quando um conjunto de pessoas que compartilham do mesmo espaço, com objetivos comuns estão juntos. Para se tornarem um grupo tem que haver uma experiência emocional compartilhada. Um grupo verdadeiro irá trabalhar junto para que o problema seja resolvido criando assim um vínculo e uma interação afetiva e emocional.
Percebe-se na comunidade um tipo de grupo informal, ou seja, grupos cujos laços afetivos estão mais vinculados em gostos e interesses comuns.
4. OS PROCESSOS GRUPAIS NA COMUNIDADE
Os membros da comunidade compartilham seus desejos, sensações e objetivos ao longo do relacionamento, sejam eles de se auto-libertar desse transtorno, como também o de lidar com ele. Esse tipo de processos relacionais, por si só, se nomeia como processos grupais; ou seja, as vontades e metas dessas pessoas tornam-se comum, cujo propósito é alcançar os mesmos objetivos.
O papel social é um modelo de comportamento definido pelo grupo. Nenhum grupo social pode ter bom funcionamento sem estabelecer papéis para seus integrantes.
A Distribuição de papéis na comunidade não está explícita. Tem o criador ou “dono” da comunidade, que é a pessoa que teve a iniciativa de criar a comunidade, Porém não tem uma hierarquia rígida como se costuma ser em outros modelos de grupos. Os integrantes da comunidade participam ativamente nos tópicos e nas enquetes. Não há discriminação de papéis. Há também os moderadores que não tem um papel definido. Na comunidade não se observa essas posições de integrantes serem ou não responsáveis por algo.
Estas formas de papéis hierarquizados encontraram na divisão social do trabalho uma forma de organização. Oliveira (1998, p. 198) ao conceituar papel social conclui que "é o comportamento que o grupo social espera de qualquer pessoa que ocupe determinado status social, é o aspecto dinâmico do status".
Já o status social é opcional, isto é, dependem da concordância ou não do indivíduo em assumir certa posição social, como, por exemplo, a ocupação de determinados cargos públicos. Outros status são atribuídos e independem da escolha individual. Numa família, por exemplo, ocupar a posição de avô independe da vontade de quem ocupa. Na comunidade observa-se o status do dono que é um status atribuído, já que ele criou, ele é o dono da comunidade.
O status adquirido: depende das qualidades pessoais do individuo, de sua capacidade, e habilidade. Não são visíveis na comunidade, por ser uma comunidade virtual a comunicação entre os membros é baseada nas respostas ás enquetes e as criações dos tópicos. Pode ter aquele integrante mais participativo e que cria as enquetes e tópicos, porém não lhe é visível a atribuição de papel social dele na comunidade.
O líder da comunidade é o dono da comunidade. É um papel atribuído a ele porem não requer muita validade. Por ser uma comunidade aberta qualquer um pode participar. As comunidades do Orkut geralmente são com o sentido de reunir pessoas com os mesmos interesses em comum, assim como a Transtorno/Síndrome do pânico é voltada aos portadores dessa síndrome, ou pessoas que convivem com pessoas assim, não há atribuição de papéis, o líder ou dono da comunidade é só por sua iniciativa de criar a comunidade.
5. DIÁLOGO DA COMUNIDADE
É uma comunidade respeitada onde é possível interagir pessoas que se interessam saber sobre o assunto e até mesmo pessoas que sofrem dessa síndrome mantendo um relacionamento afetivo virtual.
É um permanente processo de comunicação, compreendida aqui como todas as coisas que nele acontecem: corpo, palavras, posturas etc. O grupo não é apenas algo físico, visível, que só existe na sala de terapia, é uma entidade psíquica, existindo mesmo quando as pessoas não estão fisicamente presentes no mesmo lugar.
Um exemplo disso é a interação do grupo da comunidade que foi escolhida pela equipe, mostra a Gestalt do grupo cada um orientando o outro e se mostrando presente na vida deles de alguma forma, mesmo que seja virtualmente. A comunicação é prevalecida com um único denominador comum, ajudar os demais os fazer sentir-se bem, provocando a mudança para algo confortável.
CÉLIA UMA INTEGRANTE DA COMUNIDADE FALA DE SEUS MEDOS E DORES:
Dor no peito constante... Ajudem-me
‘’Eu sinto dor no peito constante, já fui ao cardiologista, ele me disse que não era do coração, mais porque essa dor não some, já fui a vários médicos, isso me tira a vontade de viver, pois vivo achando que vou morrer do coração a qualquer momento, alguém sente isso, me ajuda pelo amor de Deus, to desesperada’’.
Na interação da comunidade Eddie dialoga com Célia:
‘’O cardiologista deve estar com a razão já que o coração em si, não dói, infarto dói o queixo, formiga o braço esquerdo, sente aperto de falta de ar, diarréia, dor abdominal. Você pode estar sentindo outros problemas, às vezes um simples raio-x pode mostrar, dor no peito pode ser um monte de coisa, problemas nas costelas, problemas nas costas (coluna), vermes (amebíase), gases parados (tem pessoas que bebem pouca água). etc...para saber você tem que ser mais específica no tipo de dor, tipo o local, intensidade, tipo de dor. Vai que o problema está no pulmão por exemplo. Você tosse muito? Tem vomitado? “Tem uma série de coisas que podem ser, e dependendo dos sintomas e locais podem indicar um especialista.”
É uma função do grupo o estudo, no sentido de tornar-se consciente do desenvolvimento e transformação que ocorrem entre o mundo de fora e o de dentro, realidade e fantasia, de cada um dos seus membros, fundadas nas suas relações de necessidades.
O ser humano é um ser de necessidades, nunca completo. O grupo tenta dar cada um, o que é seu, estar atento as necessidades de nutrição de seus membros, bem como evitar o que é prejudicial.
RAFAELA KAKA DIZ:
“Oi pessoal. Vocês sentem coceira no corpo quando vem aparece ansiedade? Às vezes parece q meu corpo coça todo... Que aflição.”
EDDIE:
“Coceira nunca ouvir falar, é mais fácil você ter tomado muito antibiótico por um tempo e pegou fungos na pele... Tem pessoas ansiosas que tem o tique de se coçar... mas é muito raro mesmo... abraço.”
A Comunidade aborda um ambiente psicológico que é percebido e interpretado pela pessoa. É relacionado com as atuais necessidades do individuo. Alguns objetos, pessoas ou situações, podem adquirir valência no ambiente psicológico, determinando um campo dinâmico de forças psicológicas.
Os participantes da comunidade são um grupo coeso: A quantidade de pressão exercida sobre integrantes de um grupo a fim de que continuem nele. ‘’ é a resultante das forças que agem sobre um membro para que ele permaneça no grupo’’. Inúmeras são as razões que pode levar uma pessoa a fazer parte de um grupo uma delas pode ser a atração pelo grupo ou seus integrantes. Quanto maior coesão do grupo a satisfação é experimentada por seus membros e maior comunicação exercida pelo grupo.
6. CONCLUSÃO
Visto que a definição de grupo é a reunião de pessoas que possuem um objetivo comum, que é preciso haver interação afetiva e psicológica, e que também deve possuir uma evolução própria, força de coesão, e ainda, deve operar fatos conscientes e inconscientes, que haja responsabilidade coletiva e distribuição de papéis, podemos afirmar que essa comunidade representa uma Gestalt, pois como demonstrado, foram encontradas tais característica neste grupo. Comunidades não são construídas. Elas se autoconstroem através dos membros que têm os mesmos interesses e vão participar dessas comunidades virtuais. O interesse e aceitação das pessoas são mais forte que qualquer processo formal de agrupamento. Há a interação psicológica dos participantes da comunidade, eles dialogam entre si sobre os transtornos ocasionados pela doença, a comunidade possui uma evolução própria, pois a cada dia mais pessoas que conhecem e convivem com o tema abordado por ela pode estar acessando e se tornando mais um membro da comunidade, há a responsabilidade coletiva quando todos estão ali em pró de ajudar o outro, participar das questões envolvendo o tema, descrevendo situações de sua vida etc. A distribuição de papéis em ambientes virtuais é um pouco confuso, pois os membros participam de forma ativa, não há uma pessoa certa para se criar os tópicos e enquetes nas comunidades do Orkut, Porem na comunidade Transtorno/Síndrome do Pânico, os membros mais antigos são citados na descrição da comunidade e de certa forma são os responsáveis pelas informações passadas ali.
Comunidades são grupos sociais. E com a tecnologia evoluindo a cada dia potencializou sobremaneira a expansão e criação de novas comunidades, vencendo barreiras como distância, língua, etc. Hoje, pessoas de todos os lugares e formações podem se conhecer em comunidades e trocar experiências antes inimagináveis. A Internet maximizou a possibilidade de conhecimento de comportamento e valores dos membros destas comunidades e, com isso, a possibilidade do alcance de relacionamentos virtuais que antes sequer se pensava.
As comunidades virtuais não se baseiam exclusivamente na reunião de informações e outros tipos de recursos. As comunidades se baseiam na união de indivíduos com objetivos ou crenças comuns. Esses indivíduos são atraídos porque, enxergam nestas comunidades um ambiente de interação e conexão com outros usuários criando vínculos de proximidade e confiança.
Por fim concluímos que as comunidades do Orkut podem ser tidas como um grupo verdadeiro.
7. REFERÊNCIAS
ALEXANDRE, Marcos. Breves descrições sobre processos grupais Rio de janeiro – agosto. Dezembro 2002. Pagina 209 a 219 volume 7.
ANTONELLO Claudia Simone. Escola das relações humanas, etc. Bibliografia- Agustinho. Pagina 11 á 24.
DICIONÁRIO AURÉLIO eletrônico; século XXI. Rio de Janeiro, Nova Fronteira e Lexicon Informática, 1999, CD-rom, versão 3.0.
HOUAISS, Antônio e VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro, Objetiva, 2001.
OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. 19. ed. São Paulo: Ática, 1998.
RIBEIRO, Jorge Ponciano. - São Paulo: Summus, 1947.
SOUZA, Paulo Rogério de. E-Mail de Apresentação Pessoal e Identidade nas Comunidades Online. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo. São Paulo. 2003